terça-feira, 21 de maio de 2013

Ilusionista não classificável


O que para alguns não passa de um nome desconhecido, para quem se deixa aprofundar pelo mundo dos fotogramas, é mais do que uma figura de prestígio, é uma grande influência.
Além de dançarina, coreógrafa, poetisa, escritora e fotógrafa, Maya Deren é elevada nas mais prestigiosas escolas de cinema do mundo como teórica e realizadora cinematográfica, ao nível de grandes diretores como Jean Luc Godard e Sergei Eisenstein.

Com o intuito de fugir do padrão americano e inspirar as gerações que viriam a surgir, Maya teve papel fundamental no surgimento e na evolução do cinema experimental. Embora tenha colaborado com Marcel Duchamp na produção de um filme nunca finalizado, “Witch’s Cradle”, que explorava os objetos que estavam  no museu Guggenheim, Deren rejeitava a categorização de seus filmes como Surrealistas. Para ela, seus trabalhos eram evasios e não classificáveis.

Nascida em uma abastada família judaica, em 29 de abril de 1917, em Kiev, Ucrânia, seus pais a nomearam Eleonora, em homenagem a uma reconhecida atriz italiana da época, Eleonora Duse.
Quando pequena, com apenas 5 anos de idade, a proximidade política de seu pai com o revolucionário Leon Trotsky, e as constantes ameaças anti-semitas no país, a família, agora empobrecida, se viu forçada a fugir da União Soviética. Após atravessarem o oceano, se estabeleceram em Siracusa, Estados Unidos, onde mais tarde se tornaram oficialmente norte-americanos.

Após completar seus estudos em Genebra, Suíça, durante sua adolescência Eleonora estudou Jornalismo e Ciências Políticas na Universidade de Siracusa, iniciando seus primeiros contatos com o mundo do cinema. Durante sua vida, marcada por 3 casamentos, Eleonora, que propositalmente passou a assinar suas produções como Maya, também nome da mãe de Buda cujo significado remete à “ilusionista”, possui em seu histórico uma extensa filmografia.
Após a sua primeira separação, morando em Nova York, Deren trabalhou como assistente da dançarina e coreógrafa Katherine Dunham. Com as apresentações ao redor do país, conheceu, em Los Angeles, o cineasta tcheco Alexander Hammid, com quem se casou e produziu, em 1943, “Meshes of the Afternoon”. Filmado com uma câmera 16mm, comprada com o pouco dinheiro que havia herdado de seu pai, a obra “Meshes of the Afternoon” é tida como um marco para o cinema experimental, apontada como essencial para as produções de vanguardas americanas que viriam a surgir.
Cenas do filme Meshes oh the Afternoon (1943)
A história de uma mulher (Maya Deren), presa em seu cotidiano doméstico, atormentada por visões, cria uma atmosfera paranoica. Carregada de significados, a pequena produção é marcada por sons ambientes e desprovida de qualquer comunicação entre as personagens (Maya Deren e seu marido, além de produzirem, são atuantes).
 Inspirada na montagem rítmica de Eisenstein, a obra envolve o espectador através de uma narrativa que foge dos padrões clássicos, criando um ritmo próprio, resultando em uma experiência jamais assistida e sentida até o momento.
Com o passar dos anos, outras de suas obras passaram a caracterizá-la, e a receber destaque. Premiada pela Fundação Guggenheim e pelo Festival de Cinema de Cannes, Maya veio a falecer com apenas 44 anos, em 1961, enquanto morava no Japão.
Na época, especulações sobre a verdadeira causa de sua morte foram relacionadas com o seu envolvimento em rituais vudus. O que jamais se dicutiu foi a certeza em relação as sua inovações, que continuam a fascinar e a inspirar cineastas contemporâneos.

Filmografia:
  • Witch’s Cradle (1943)
  • Meshes of the Afternoon (1943)
  • At Land (1944)
  • A Study in Choreography for the Camera (1945)
  • Ritual in Transfigured Time (1946)
  • Meditation on Violence (1948)
  • The Very Eye of Night (1958)
  • Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti (1985)



Texto: Helena Salgado
Pesquisa: Natalia Concentino
Edição de imagens: Isabela Bandeira

1 comentários:

Unknown disse...

ok. só sinto falta de um link... meshes tem na rede.

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