O que para alguns não passa de um nome desconhecido, para
quem se deixa aprofundar pelo mundo dos fotogramas, é mais do que uma figura de
prestígio, é uma grande influência.
Além de dançarina, coreógrafa, poetisa, escritora e
fotógrafa, Maya Deren é elevada nas mais prestigiosas escolas de cinema do
mundo como teórica e realizadora cinematográfica, ao nível de grandes diretores
como Jean Luc Godard e Sergei Eisenstein.
Com o intuito de fugir do padrão americano e inspirar as
gerações que viriam a surgir, Maya teve papel fundamental no surgimento e na evolução
do cinema experimental. Embora tenha colaborado com Marcel Duchamp na produção
de um filme nunca finalizado, “Witch’s Cradle”, que explorava os objetos que
estavam no museu Guggenheim, Deren
rejeitava a categorização de seus filmes como Surrealistas. Para ela, seus
trabalhos eram evasios e não classificáveis.
Nascida em uma abastada família judaica, em 29 de abril de 1917, em Kiev, Ucrânia, seus pais a nomearam
Eleonora, em homenagem a uma reconhecida atriz italiana da época,
Eleonora Duse.
Quando
pequena, com apenas 5 anos de idade, a proximidade política de seu pai com o
revolucionário Leon Trotsky, e as constantes ameaças anti-semitas no país, a
família, agora empobrecida, se viu forçada a fugir da União Soviética. Após
atravessarem o oceano, se estabeleceram em Siracusa, Estados Unidos, onde mais
tarde se tornaram oficialmente norte-americanos.
Após
completar seus estudos em Genebra, Suíça, durante sua adolescência Eleonora
estudou Jornalismo e Ciências Políticas na Universidade de Siracusa, iniciando
seus primeiros contatos com o mundo do cinema. Durante sua
vida, marcada por 3 casamentos, Eleonora, que propositalmente passou a assinar
suas produções como Maya, também nome da mãe de Buda cujo significado remete à “ilusionista”,
possui em seu histórico uma extensa filmografia.
Após a sua
primeira separação, morando em Nova York, Deren trabalhou como assistente da
dançarina e coreógrafa Katherine Dunham. Com as apresentações ao redor do país,
conheceu, em Los Angeles, o cineasta tcheco Alexander Hammid, com quem se casou
e produziu, em 1943, “Meshes of the Afternoon”. Filmado com uma
câmera 16mm, comprada com o pouco dinheiro que havia herdado de seu pai, a obra
“Meshes of the Afternoon” é tida como um marco para o cinema experimental, apontada
como essencial para as produções de vanguardas americanas que viriam a surgir.
A história
de uma mulher (Maya
Deren), presa em seu cotidiano doméstico, atormentada por visões, cria uma
atmosfera paranoica. Carregada de significados, a pequena produção é marcada
por sons ambientes e desprovida de qualquer comunicação entre as personagens
(Maya Deren e seu marido, além de produzirem, são atuantes).
Inspirada
na montagem rítmica de Eisenstein, a obra envolve o espectador através de uma
narrativa que foge dos padrões clássicos, criando um ritmo próprio, resultando
em uma experiência jamais assistida e sentida até o momento.
Com o passar dos anos, outras de suas obras passaram a
caracterizá-la, e a receber destaque. Premiada pela Fundação Guggenheim e pelo Festival
de Cinema de Cannes, Maya veio a falecer com apenas 44 anos, em 1961, enquanto
morava no Japão.
Na época, especulações sobre a verdadeira causa de
sua morte foram relacionadas com o seu envolvimento em rituais vudus. O que
jamais se dicutiu foi a certeza em relação as sua inovações, que continuam a fascinar
e a inspirar cineastas contemporâneos.
Filmografia:
- Witch’s Cradle (1943)
- Meshes of the Afternoon (1943)
- At Land (1944)
- A Study in Choreography for the Camera (1945)
- Ritual in Transfigured Time (1946)
- Meditation on Violence (1948)
- The Very Eye of Night (1958)
- Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti (1985)
Texto: Helena Salgado
Pesquisa: Natalia Concentino
Edição de imagens: Isabela Bandeira