sexta-feira, 10 de maio de 2013

A incerteza da razão: o Surrealismo no cinema

Uma mescla de filosofia, expressões artísticas, sentidos, linguagens e a manifestação da imaginação nua e crua. São vários os termos utilizados para caracterizar o Surrealismo no mundo cinematográfico. No entanto, há uma característica indispensável para defini-lo: a fuga da realidade. 


O movimento surrealista teve seu início na França, em meados da década de 20. Engatado ao Dadaísmo, teve o papel de enfatizar o inconsciente na atividade criativa e, principalmente, de destruir conceitos que foram construídos pelo racionalismo da época. Supera a objetividade e subjetividade características do comportamento da sociedade burguesa e propõe uma reflexão sobre sonho e realidade, utilizando temas considerados polêmicos (sexo, violência, loucura) para questionar valores sociais como honra, família, religião, trabalho, entre outros.

Segundo Octavio Paz Lozano, poeta e ensaísta mexicano, o movimento surrealista tinha o propósito de abolir a realidade imposta como única e verdadeira; o Surrealismo, além de criar uma arte nova, também criava um homem novo, alterando suas percepções sobre o mundo e sobre si mesmo. Os artistas mais reconhecidos por suas obras surrealistas foram Salvador Dalí, Yves Tanguy e René Magritte, explorando a psicologia humana e as formas, cores e sentidos dos objetos em suas pinturas. A sensação de tontura, confusão e distorção das formas que poderiam causar diversos sentidos ao olhar do espectador também se aplicaram ao cinema, sendo representadas pela falta de linearidade dos fatos, ausência de diálogos comuns e a mescla de imagens sem uma linha de raciocínio logico (sem começos, meio ou fins). 


"O Peixe" (1933), de René Magritte.

Produções percursoras do movimento surrealista no meio cinematográfico foram “Um Cão Andaluz” (1928) e “A Idade de Ouro” (1930), ambos do diretor espanhol Luiz Buñuel. Com a colaboração do próprio Salvador Dalí, Buñuel explora sentidos e conceitos em Um Cão Andaluz, com cenas que vão do próprio diretor cortando o globo ocular de uma moça sentada na varanda a cenas que envolvem animais mortos, insetos e delírios eróticos. Outro grande exemplo de ambiguidade no filme do diretor espanhol é a ausência de uma linha cronológica de acontecimentos, descritos inicialmente por um “era uma vez” e seguidos por “oito anos depois”, sem alteração do tempo, espaço ou nas próprias características físicas e psicológicas dos personagens. 

O efeito dessas sequências desconexas é uma tentativa do espectador de criar uma ordem lógica dos acontecimentos, interpretações e uma linha de raciocínio que acompanha o filme, porém, é o inconsciente do próprio observador que vai apresentar as respostas para o que é questionado, estimulando a imaginação e a visão do mundo e de conceitos do próprio indivíduo. Não há nada de concreto no movimento surrealista a não ser a incerteza de uma verdade. Como incita o próprio movimento, não há uma verdade absoluta ou uma cronologia dos fatos: vai da imaginação e perspectiva do próprio espectador.


Texto: Isabela Bandeira Saciotti
Edição de imagens: Isabela Bandeira Saciotti

1 comentários:

Unknown disse...

belo titulo. e materia tb

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