Uma mescla de filosofia, expressões artísticas, sentidos, linguagens e a manifestação da imaginação nua e crua. São vários os termos utilizados para caracterizar o Surrealismo no mundo cinematográfico. No entanto, há uma característica indispensável para defini-lo: a fuga da realidade.
O movimento surrealista teve seu início na França, em meados da década de 20. Engatado ao Dadaísmo, teve o papel de enfatizar o inconsciente na atividade criativa e, principalmente, de destruir conceitos que foram construídos pelo racionalismo da época. Supera a objetividade e subjetividade características do comportamento da sociedade burguesa e propõe uma reflexão sobre sonho e realidade, utilizando temas considerados polêmicos (sexo, violência, loucura) para questionar valores sociais como honra, família, religião, trabalho, entre outros.
Segundo Octavio Paz Lozano, poeta e ensaísta mexicano, o movimento surrealista tinha o propósito de abolir a realidade imposta como única e verdadeira; o Surrealismo, além de criar uma arte nova, também criava um homem novo, alterando suas percepções sobre o mundo e sobre si mesmo.
Os artistas mais reconhecidos por suas obras surrealistas foram Salvador Dalí, Yves Tanguy e René Magritte, explorando a psicologia humana e as formas, cores e sentidos dos objetos em suas pinturas. A sensação de tontura, confusão e distorção das formas que poderiam causar diversos sentidos ao olhar do espectador também se aplicaram ao cinema, sendo representadas pela falta de linearidade dos fatos, ausência de diálogos comuns e a mescla de imagens sem uma linha de raciocínio logico (sem começos, meio ou fins).
Produções percursoras do movimento surrealista no meio cinematográfico foram “Um Cão Andaluz” (1928) e “A Idade de Ouro” (1930), ambos do diretor espanhol Luiz Buñuel.
Com a colaboração do próprio Salvador Dalí, Buñuel explora sentidos e conceitos em Um Cão Andaluz, com cenas que vão do próprio diretor cortando o globo ocular de uma moça sentada na varanda a cenas que envolvem animais mortos, insetos e delírios eróticos. Outro grande exemplo de ambiguidade no filme do diretor espanhol é a ausência de uma linha cronológica de acontecimentos, descritos inicialmente por um “era uma vez” e seguidos por “oito anos depois”, sem alteração do tempo, espaço ou nas próprias características físicas e psicológicas dos personagens.
O efeito dessas sequências desconexas é uma tentativa do espectador de criar uma ordem lógica dos acontecimentos, interpretações e uma linha de raciocínio que acompanha o filme, porém, é o inconsciente do próprio observador que vai apresentar as respostas para o que é questionado, estimulando a imaginação e a visão do mundo e de conceitos do próprio indivíduo. Não há nada de concreto no movimento surrealista a não ser a incerteza de uma verdade. Como incita o próprio movimento, não há uma verdade absoluta ou uma cronologia dos fatos: vai da imaginação e perspectiva do próprio espectador.
Texto: Isabela Bandeira Saciotti
Edição de imagens: Isabela Bandeira Saciotti
1 comentários:
belo titulo. e materia tb
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