sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O homem que não existe

“Eu sou o Senhor Ninguém, o homem que não existe.
Eu tenho 9 anos, e corro mais rápido que um trem.
Eu tenho 15 anos, e estou apaixonado.”



São com essas descrições, quase poéticas, que começa Mr. Nobody. Não é aquele filme aclamado pela crítica, talvez por não ser americano e sim canadense, ou por não ter um Martin Scorsese na direção, nem Meryl Streep no elenco, uma série de escolhas não quis que o filme fosse conhecido, nem líder de bilheteria, mas não tirou sua qualidade.
Ficção científica é sempre um gênero complicado, não dos meus prediletos preciso dizer, colocar uma história por trás de tantas fantasias tecnológicas nem sempre tem um resultado feliz, essa é uma exceção. 

Até porque envolve drama, romance, fantasia, vários gêneros misturados inteligentemente em um roteiro não linear. É 2096, e com 118 anos Nemo é último mortal no planeta. O ser humano descobriu uma forma de se manter jovem e eterno, como último exemplar de uma raça de dias contados seu cotidiano é retratado em reality show para o resto da humanidade, em que ele conta como foram suas vidas.

Suas vidas, porque existem inúmeras possibilidades. É disso que filme trata, além de todas as teorias físicas, como a das cordas, do caos e da entropia –o que deixa qualquer fã de Donnie Darko feliz- existe uma indagação sobre escolhas e como elas podem influenciar nosso futuro.
Escolher uma bomba de chocolate a um rocambole de morango, comprar uma vara de pescar, ter filhos ou não, entre Jean, Elisa e Anna... Três mulheres, três destinos completamente diferentes, mas qual seria o verdadeiro? Quais seriam apenas imaginação? 

O desenrolar passeia por essas prováveis escolhas e vai de cada um decidir qual viver. Chegar a crise existencial de que na verdade somos apenas um rabisco mal feito de um mundo de ideias perfeitas e inabaláveis (obrigada, Platão) também pode ser uma conclusão, por assim dizer. Mas mesmo para aqueles que não queiram divagar no meio de tantas teorias, nem filosofar, a história reserva boas duas horas de entretenimento, unindo um futuro incerto com a possibilidade da escolha, e não é esse o grande dilema da vida? Como diria Nemo: “Não tenho medo de morrer, tenho medo de não ter vivido o suficiente”.

Parte técnica:
Para diferenciar cada uma dessas escolhas as cores do filme são essenciais, é perceptível o cuidado da direção de arte e fotografia, Jean é amarelo, Elisa, azul e Anna vermelho, as cores se seguem durante todo o filme identificando cada teia e tem seu significado, amarelo do sucesso profissional e saúde, azul para frieza emocional cheia de depressão e o vermelho de amor e paixão. Nemo, no futuro, é branco para designar que tudo ainda é possível, ainda pode ser escrito.

Meu ponto de encontro entre tudo foram os olhos incrivelmente azuis de Jared Leto, que combinaram perfeitamente com os de Diane Kruger, minha queridinha no enredo feito por Jaco Van Dormael. Preciso destacar a maquiagem, que fez com que esses olhos se perdessem em rugas e entrelinhas de um homem de 118 anos.

No IMDb a avaliação é de 7.8, e a trilha sonora é algo que é preciso ser comentado, o responsável foi o irmão do diretor Pierre Van Dormael, é fácil perceber que ele adora trabalhar com versões de uma mesma música. Criou duas para o filme: Undercover- que tem duas versões, uma para o início do filme e outra para momentos românticos- e Mr. Nobody, também com duas versões. “Mr. Sandman” é a música mais tocada, mas em três versões diferentes e em momentos também, temos a interpretação de Emmylou Harris, The Chordettes e Gob, e a letra combina perfeitamente com... tudo! Destaque para Buddy Holly e sua fofura diretamente dos anos 50, com Every Day.

Muita música erudita, com Erik Satie e Gabriel Faure. E rock com Pixies, “Where’s my mind” – que todo filme quer de trilha, né? No roteiro tiveram também o cuidado com o Tempo, coloco em letra maiúscula porque é quase um personagem na história, que vai e volta, e também é relembrada com a teoria do Big Bang e espaço contínuo. Bem, Mr. Nobody é um daqueles filmes que você PRECISA ver mais de uma vez, para conseguir absorver tudo que é apresentado.

Hellen Albuquerque

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